quinta-feira, 22 de abril de 2010

Poética-Neuza Ladeira


Imagem:aquarela, da também poeta Neuza Ladeira, aqui hoje com um de seus lingures poemas.Gosto muito dessa tela-quando quis comprá-la, já havia sido vendida.





Imagem:Phenakistoscope
Fonte:http://www.youtube.com/watch?v=kI1Y2RFfXh8&feature=player_embedded


Imagem:Fantasmagorie-
FONTE(visite):http://ia37.tice.ac-orleans-tours.fr/eva/mission-educ-art-culture/IMG/Image/fantasmagorie.jpg

POÉTICA

Para se estar preso não se precisa de grades
Elas são tão indecifráveis ao redor
O obre sabe que nas cordas as marionetes obedecem
Quando a realidade nos palcos traduz a peça
O infeliz sem rumo corre aflito sabe bem que tão frágil está
que nem decisão ou opinião consegue tomar
Um turbilhão de dedos milhões de acusações
A vida medida corre em linha reta
mas o mundo circular nos coloca para dançar
Esta dança frenética cheia de falésia
assim o lobo é laçado o pasto dizimado
Tanta dor e tão antiga -as normas dadas continuam a comandar
O passado ainda presente o futuro onde está
Inconstante navega aquilo que foi
Esqueceu que tem máscara e há muito não vê
Estão na sombra da roupa no varal .

Neuza Ladeira

Divulgação:
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Diretora Regional do inBrasCI
Vice Presidente do IMEL

quarta-feira, 21 de abril de 2010

BRASíLIA 50 ANOS-Clevane Pessoa, Anibal Albuquerque poetizam




Anjos na Catedral


Em meu primeiro dia na capital brasileira
da qual sabia sem ter visto de perto,
segredos, reentrâncias, arquitetura e belezas,
fui levada a um tour,
onde flores semeadas aqui e ali e um céu de bola-de-gude
demarcavam-se em minha memória para um amanhã.
Mas quando entrei na catedral ,a energia levou e elevou meu olhar.
Um anjo suspenso sobre minha cabeça e outros mais esparsamente
mostraram-me que tenho de andar na linha
para que o não desabem sobre as outras cabeças incrédulas.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes
(in Rememórias)
21 de abril:Meio século de NOVACAP

<>*<>

Meu amigo , Aníbal Albuquerque, envia-me também sua rememória poética sobre Brasília:

BRASÍLIA – 50 ANOS

Aníbal Albuquerque


Não canto a Brasília dos políticos corruptos;
dos conchavos, propinas, negociatas, mensalões;
do Delúbio, Dirceu e companhia ilimitada;
das compras e aluguel de siglas partidárias;
do Arruda, Paulo Octávio e seus asseclas;
das obras superfaturadas, das licitações acordadas.

Canto a Brasília de JK: planejada e construída.
A Brasília dos pioneiros: engenheiros e candangos.
Brasília de Israel Pinheiro, de Bernardo Sayão;
de brasileiros de todos os estados, com sotaques bem diversos.
Brasília do lobo guará e das flores do cerrado.
Do Catetinho, do Alvorada sem estrela do PT.

Canto a Brasília que conheci em janeiro de 1961:
Brasília ainda criança, surgindo da terra vermelha.
Do Plano Piloto de Lúcio Costa; das obras de Niemeyer;
da Catedral, do Eixo Monumental, da Praça dos Três Poderes;
das asas Sul e Norte, da Cidade Livre, do Lago Paranoá.
Brasília de céu azul e pôr do sol inigualável.

Canto a Brasília que me acolheu em 1966,
menina engalanada, naquele distante 21 de abril.
Brasília do SMU, da Super Quadra Sul 209.
Brasília da Bateria Independente Antiaérea;
do primo Márnio, do Califa, Taulois, Montedônio;
dos campeonatos nacionais de tiro ao alvo.

Canto a Brasília em que iniciei o Curso de Engenharia;
Brasília da UnB, das aulas de desenho e de estatística.
Brasília do “Dr. Jivago” e do “Tema de Lara”.
Brasília de nosso primeiro imóvel próprio.
Brasília de 1967, em que nasceu Alexandre,
nosso quarto e querido filho, agora, cearense.

Canto a Brasília, cinquentona de hoje, e a de amanhã.
Brasília asfaltada, bem iluminada, desenvolta e culta.
Com esperança de que os ocupantes de ministérios e palácios
saibam dedicar-se ao país e não a seus bolsos;
possam legislar, governar e julgar para o bem do Brasil,
rico, belo e próspero, mas tão roubado há tantos anos.

Sul de Minas, 21 de abril de 2010

Aníbal Albuquerque
EMBAIXADOR UNIVERSAL DA PAZ
(Cercle Universel des Ambasseurs de la Paix - Genebra - Suíça)
VARGINHA - MG - BRASIL

<>*<>


Até 09 de maio, pode-se mandar frases para um livro de Ouro, saiba mais em
http://www.brasiliavaleouro.com.br/

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sarau no Bella-Vavá do Bexiga-18 de abril-S.Paulo




Regina ieko nos enviaa chamada para quem está em SAMPA:



16 de abril de 2010 02:17
assunto:Sarau no Bella





"Olá galera do bem,
Convidamos a todos para o Sarau no Bella , dia 18 de abril, domingo, das 13 às 16hs. Com pocket show do convidado especial Vavá do Bixiga, cordelista , poeta popular, ator e músico.

No Teatro Bella, R. Rui Barbosa, 399 - Bela Vista, São Paulo.
Compareça, traga seus adereços cênicos, seus instrumentos, seus malabares, seu número, seu batuque, suas idéias!!!

Sorteio de ingressos ao final do evento.

Sarau filmado, adquira a sua participação em DVD.

Couvert apenas R$ 2,00. "

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Neuza Ladeira em versos e azul


A imagem (*)homenageia Neuza ladeira, que em seu livro Os Comedores de Sonhos, que prefaciei,refere-se a si mesma usando a Flor"




A foto de Neuza in Blue, tem crédito do poeta e fotografo Marco llobus, quando fomos entrevistá-la para o Projeto POIETISA.


Recebo dois poemetos da grande Neuza Ladeira, antenada com a dor e a face alheia e peço-lhe licença para compartilhar com vocês.
Ela aquiesce.Depois, solicito para ler e ela me atende.Ao tlefone, intereto-0os.
Registro ainda que um dos maiores prazeres de meus dias e quando a amiga liga e lê para mim seus versos.

Clevane

UM LAMENTO

Lamentamos solidarizamos
A dor sentida no verso não compartilhado
Nas câmaras os acontecimentos de uma chuva assassina
No dia um grande sofrimento
A terra derrapa escorrega se afunila abre vagas
Soterra desnorteia sem pouso os habitantes do Bumba
Na confusão fome fria sede cheiro lixo
Um sentimento uma dor na imagem mesma infeliz

Neuza Ladeira


ADEUS
Aquele homem tão feio é mesmo ele o enganador da poesia furada
Pega as palavras e solta ao vento para os bobos perdidos
Sem mundo sem critérios sem educação
Com as mãos cheias de si mesmo joga as serpentinas
NL

(*) Papel de Parede in http://download.ultradownloads.com.br/wallpaper/61368_Papel-de-Parede-Flores-Azuis_1024x768.jpg

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Marco Llobus:aniversário-12 de abril de 2010


Acima :Marco Llobus-desconheço os creditos dssa expressiva fotografia.



Acima, o violeiro , mestre de Chorinho, Seu Xisto Guiga, pai do Celinho Guiga, que não nega as origens do pai e do avô , as raízes da família Guiga.



O fotógrafo Marco Llobus ,na série "HUS MANO",retrata artistas obscuros - e outros nem tanto, manos de POIESIS mil- para as pessoas de outras Minas Gerais,de outros brasis....Lembra-me a canção "é gente humilde,que vontade de chorar" ,quando fotografa os violeiros,os músicos,a gente boa e simples de cada lugar onde,buscador,busca-a-dor e torna artístico o facies sulcado de quem laborou na Terra,quem suou no trabalho braçal,de quem canta e dança apesar de,de quem pratica esculturas,pinturas,coisas de cultura do interior,umas herdadas de geração para geração...

A roda de congo, a congada mineira,herança dos escravos,subsiste apesar de,na vontade e na sensibilidades dos descendentes,dos apreciadores enganjados aos grupos.Basta um chão,sons de percussão,batidas ritmadas...Quando entrevistei Mestre Conga,em Belo Horizonte,numa experiência memorável,ele contou que amarrava latinhas de massa de tomate nas pernas,menino,para acompanhar a roda.Ele e o irmão,por isso,ganharam apelidos-e ainda hoje ele é conhecido como tal.Contou-me da fascinante experiência de participar de uma roda de congada,de ser visto,aplaudido,seguido...
Na UFMG,Mestre Conga ainda ensina na Faculdade do Samba, seu outro amor...
Quantas faculdades terão de ser abertas para que a Memória do povo brasileiro,ou dos povosbrasileiros,tão grande é nossa diversidade?Com a evasão das pessoas mais jovens,principalmente,de seus locus de origem,corremos o risco de perder ,para sempre,a riqueza cultural de nossa gente.

Felizmente ,existem pessoa como meu amigo o sensível poeta,músico e artista plástico Marco LLobus,que,literamente,corre atrás do registro fotográfico desses rostos cansados e devastados,mas que renascem de si todos osdias,para a dança,para a música,para a poesia...Cantantes,brincantes,mestres,trocadores,compositores...
E para saudar esse artista jovem ainda,que se preocupa assim com o outro,somente em forma de cordel,à minha maneira de dizer...

Cordel para Llobus

Clevane


Licença,meus bons senhores,
que boas novas vim trazer,
atenção,meus cantadores,
pois vocês vão conhecer
quem vai revelar suas dores,
suas historias vai dizer...

Sendo lobo que uiva prá lua,
é carcará de voz forte,
aponta a poeira que estua
nas bandas secas do norte,
fala dos frios nas ruas
nas Minas frias de corte...

Marco Llobus na verdade,
traz prá mim tal comoção
que ao ver os moços de idade
dançando em batido chão,
em suas fotos,verdade,
dispara meu coração...

Ele mostra a cantoria,
e a animação dessa gente,
as rugas,cada alegria,
as esperanças que se sente
a chuva onde o fogo ardia...

Com humildade esse rapaz,
diz ser um mero aprendiz
da História que o povo faz,
os medos que não se diz,
pois a coragem desfaz...

Se a fome grassa,que importa,
quando há fartura de dança,
e o sorriso bate à porta
-com caninha ninguém cansa,
peixe no rio,verde na horta...

Mas se os donos do poder,
soubessem o poder pleno
da arte de poder ser
um homem pobre e sereno,
iam querer conhecer...

E o artista,vê os artistas,
vê o sagrado e o profano,
planeja e faz mil listas,
e assim fotografa HUS MANO,
e manda pros analistas...

Dá licença ,minha gente,
que esse lobo vai chegar,
um homem de sangue quente,
debaixo do chapéu a suar:
de longe,vem insistente...

Em vez de tirar retrato
de ricaços e patricinhas,
ele quer,mesmo,de fato,
é flagrar as avezinhas
que trinam aqui no mato
e brilham até sozinhas...

Batam palmas,meus brincantes,
os calcanhares,no chão,
cantem com vozes possantes,
que a história não some não,
na Conga,cês são vibrantes,
não negam a persussão...

O Llobus vamos saudar,
a esse passarim de orelhas,
seus feitos vamos cantar,
que,simples quais as ovelhas,
é capaz de nem ´pensar
quando as fotos dão nas telhas...

-Se achegue,venha até nós,
ô seu menino Marquinhos,
sacuda todos os pós ,
descalce seus chinelinhos,
desate nossos cipós,
sente com seus amiguinhos...

-Óia Marco,vou lhe contar,
a histórias das minhas dores,
meu pigarro vai roncar,
mais cê num é que nem dotores,
nos calos,não vai pisar,
vai é cantar com cantores...

-Entre na roda dos versos,
que ocê também toca viola,
esquece os homes perversos
-sei que trouxe na sacola
uns apetrechos diversos
que não lhe deram na escola...

-Com pinga,molhe a garganta,
que o povo todo quer ver,
quer ouvir a voz que planta
a verdade em cada ser
com cada foto que canta...

Se um oferece um banquinho,
puxam-lhe a manga os meninos,
a patroa faz cafezinho,
até mesmo os mais sovinos
sorriem como carinho...

E ele fica,bem contente,
vai ficando,vai ficando...
Tenho de parar,ô gente,
de comentar,vou parando,
senão,só paro,na frente...

Aplaudo aqui,esse amigo,
que a roupa do pobre veste,
que é testemunha de umbigo,
que vai parar num agreste,
fotografar o que digo,
por mais que o sol a tez creste...

Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes, por herança ,cordelista e trovadora.

Marco:pode ser que depois melhore o cordelzinho,mas fiz direto na telinha e para dar vazão à alegria de ver mais um HUS MANOS,querendo sempre ser sua mana,meu irmão!
Meio de brincadeira,mas com muita seriedade,aí vai...


Clevane pessoa de araújo Lopes
Postado por Clevane Pessoa e Outras pessoas às 15:32
Marcadores: Clevane Pessoa:Cordel para Llobus

E a grande cordelista ,repentista Rosa Régis, de Natal, RN, ainda passou e deixou-nos um recado:


1 comentários:
Rosa Regis disse...


Estou aqui de passagem
Mas vou deixar meu recado
Em forma de comentário
Como foi solicitado
Através de Deth Haak,
Poetisa de destaque,
Estilo cordel. Rimado.

Gostei muito do que vi
E prometo: Voltarei!
Se puder contribuir,
Prometo que o farei
Trazendo cordel com rima
E com métrica, inda por cima!
Se irão gostar eu não sei.

Chêro no côco, no meio da fulô! Como dizia minha querida mãezinha. Que Deus a tenha!

Rosa Regis

E um poema de Llobus:

quarta-feira, 31 de março de 2010
não vou me reter as frases completas
ou construir mundos, imagens e sons
não deixarei a minha cor perder a sua essência
e nem mesmo deixarei a minha poesia vagar sem seus vazios

não estou para sintaxe,
nem mesmo que me venha,
branco ou amarelo
ou em bandeira um

não quero carona na ordem,
pois não serei mas uma linha

quero um poema-músico
... com cheiro
e sabor sinestésico
tal qual a última dose que roubei da quimera

deus sabe,

sempre desacato nas não sutilezas.
e hoje pequei minha jaqueta preta,
coturno,

para mostrar
como estou
PUNK... dessa mesmice

la fine della pastorizzazione

***><***

Conheçam seu blog-sui generis:http://marcollobus.blogspot.com/

deliciem-se com a palavra e a imagem desse talentosos "poetamigo".

Clevane Pessoa
clevanepax@gmail.com

domingo, 4 de abril de 2010

CAPORI-CAFEZINHO POÉTICO MUSICAL número 548




Aqui, para ilustrar, mando o poema concreto de Fábio Sexugi, que assim comenta sobre seu poem, primeiro lugar em 2008:

"Uma xícara premiada

Estou feliz. Comecei a escrever há pouco menos de quatro meses e estou colhendo agora os primeiros frutos. O poema "Xícara", simples e breve como um cafezinho, ficou em 1º lugar no Concurso Nacional de Poesia Caleidoscópio 2008, concorrendo com quase 200 outras poesias válidas inscritas."

No ano passado, a Presidente do Instituto imersão latina, Brenda Mars, fez um evento chamado 24 Horas de Café, que aconteceu em Belo Horioznt, no café Khálua.Participei do recital e fiz vários desenhos,escrevi vários poemas e criei alguns poemas visuais.O brasileiíssimo tema é bem fascinate.

Hoje, para fazer a chamada para o usual evento da CAPORI (*)(Casa do Poeta Riograndense) , lembrei-me de ilustrar como poema do Fábio.Veja mais em seu blog:

peabiruta.blogspot.com/
Divulgação:
Clevane Pessoa



<<>>*<<>>



CASA DO POETA RIO-GRANDENSE CAPORI/2010

CONVIDA:
06/04/2010
A PARTIR DAS 20 HORAS
LOCAL: SE ACASO VOCÊ CHEGASSE

548º CAFEZINHO POÉTICO MUSICAL
INGRESSO FRANCO

presença de poetas escritores músicos
cantores declamadores

música e poesia para encantar e confraternizar

sorteio de obras literárias

alegria do encontro com cafezinho no balcão.

Esteja conosco!

Estaremos lá e ficamos desde já
gratos por sua presença.

Ieda Cavalheiro - Presidenta

Altayr Venzon - Vice Presidente

Alda Silva- Secretária

Joaquim Moncks - Presidente do Conselho Deliberativo

Lígia Antunes Leivas - Presidenta do Conselho Fiscal

Jorge Peixoto - Bibliotecário

José Moreira da Silva - Relações Públicas

Ilzoni Cunha de Menezes - Diretora Social e Cultural

Professor Massareti - Diretor Musical

(*) Participo das duas mais recentes antologias da CAPORI, pariciparei da próxima e a Presidente, Iedacavalheiro concidou-me para ser memebro da casa,oq ue muito honrou-me.E pensr qe moro em Belo Horioznte, no sudeste, nasci noRio Grande do MNorte(São José de Mipibu) e agora, estarei em uma casa depoetasgaúchios.Essa, a harmonia desejável na Rede...

Clevane Pessoa
Diretora Regional do inBrasCi em Belo Horizonte, MG
Vice Presidente do IMEL
Membro da SPVA/RN e Patroness da AVSPE.
clevanepax@gmailcom

sábado, 3 de abril de 2010

MINHA POESIA BÊBADA E SEM DESTINO-Maria José Limeira



01.01.05


MINHA POESIA BÊBADA E SEM DESTINO

Maria José Limeira



Minha poesia é sem rima, não tem pé nem cabeça.

Imagino-a tropeçando por aí pela rua, bêbada e sem destino.

Se não tem cabeça, não é poesia. É mula de padre.

Mas, o que pode o padre fazer com uma mula assim?

Não tendo cabeça, não tem olhos.

Sendo assim, não pode enxergar o caminho.

É animal imprestável, portanto.

Mula, padre, poesia, destino, caminho...

O que tudo isto tem a ver comigo, a não ser que estou sozinha?

Estar sozinha é como perder todos os elos.

Ninguém tem razão para escolher a solidão, como eu fiz.

A mesa, onde apoio os braços, é, talvez, o maior exemplo de quem pode sobreviver sem o mínimo que seja.

Mesa já foi árvore derrubada, cujos troncos mutilados boiaram sobre as águas do rio, e se

deslocaram na direção da cidade, por entre ruídos de serras elétricas e homens insensatos.

Em seguida, como produto inacabado, foi carpintaria, roupa de pintura nova, vitrine de loja e descanso no meio da sala. Essa movimentação envolveu gente, trabalho, histórias e sonhos.

No meio da sala, agora, no entanto, é espectro calado.

Minha poesia é assim: bêbada, sem olhos, tateando na sombra, padre sem cabeça, mula sem padre ou mesa arte-final.

Minha poesia, sorumbática e calada, é animal imprestável, que não enxerga o caminho.

Meu texto é cansado, vítima da asma colérica, e sofre de ansiedade.

Ah, como eu admiro os grandes escritores, cujos poemas narram as voltas das borboletas em torno do mel das flores!

Eu queria dar luz à minha poesia, para que vibrasse, como o sino da matriz em dia de festa.

Queria uma poesia azul e branca, como o céu do Nordeste.

Que minha poesia cantasse a vida e encontrasse o amor.

E que esse amor fosse alegria, e não danação.

Em vez disso, quando os braços se apóiam sobre a mesa para escrever, vêm-me à lembrança o soturno céu da minha infância, o exílio em que mergulhei para escapar da dor, o primeiro amor de cuja perda nunca me recuperei, a casa de onde fui despejada, as separações que a vida me impôs, e todo o resto que me escapa e amarga.

Minha poesia é meio louca.

Parece a cabeça da mula que o padre perdeu.

Por isso sou sem destino, tristeza, solidão, árvore mutilada, cadáver insepulto, espectro de mim, sombra encostada nos muros ao sol, e fantasma no meio da noite.

Minha poesia nunca amanhece...



(Do livro “Crônicas do amanhecer”)

Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB

500 Anos de Mulher



Recebo, do fotógrafo, autor e ator Fernando Barbosa, do Espaço Cultural Casa do Fernando, em Belo Horizonte-mG.

Visite-o em http://redefelcominas.ning.com/video/1434491:Video:528

Veja também no You Tube-->http://www.youtube.com/watch?v=nUDIoN-_Hxs&feature=player_embedded#