terça-feira, 16 de junho de 2009

Aroldo Pereira-Wagner Torres-Adão Ventura




ADÃO VENTURA,WAGNER TORRES E AROLDO PEREIRA

Wagner Torres, de braços abertos, Adão Ventura(in memoriam), jovem e Aroldo Pereira:grandes poetas da negtirude-e digo isso porque assim se colocam , mas são apenas isso:grandes poetas..

Prévia,da edição número 4 de "Estalo, a Revista", homenagem a poetas negros(*) -2004

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


ADÃO VENTURA(in memoriam) (*)

"Estalo,a revista", de homenagear-te, mesmo in memoriam, cumpre destinação.Luiz Lyrio lembra que ia colocar-te em um dos números anteriores à tua morte,o que decerto foi adiado porque te julgávamos eterno.Como ícone, o és, decerto...Quando fomos,os poetas Wilmar Silva, Marina Silva Santos , Lyrio e eu, a Ribeirão das Neves,à sua academia, ainda chamada ANEL(hoje ANELCA:Academia Nevense de Letras, Ciência e Arte), a convite de seu presidente ,Mauro,Morais,para eu fazer uma palestra, era também dia de homenagear-te.Estava lá teu mano e ficamos a relembrar-te.Teus versos estavam escritos atrás de nós, num quadro.Nossa voz se fez tua voz, ao declamar-te.Estivemos impregnados de ti e eu lembrava quando lia tua verve, no Suplemento Literário do "Minas Gerais" e o último retrato que vi teu, a cores, impresso em Cantárida a linda coletânea que ganhei do editor Wagner Torres.

Adão, Adm,nome do primevo ser humano, morres cedo, com 58 anos,sais da prateada pupa, asas novinhas e coloridas- vives sempiterno, sempre terno, mesmo quando falas da cor da pele,e suas dores terrenas,se sabemos que

“TODO SANGUE É VERMELHO
TODA ALMA É QUALQUER COR,”

como digo num poemeto publicado na Comercial de Juiz de Fora, em minha página literária, nos Anos 60/70.Qualquer dia, irei ao meu baú de pau-d’angola e em encontrando o recorte, publicarei na íntegra.

Adão, vivente pleno, veio conhecer este mundo em Santo Antonio do Itambé, cidadezinha próxima a Serro. Mineirim, sim, conhecido, sim, destas bandas e pelo mundão a fora.Vaidoso,não:era um contentamento de sua representação de raça,a que neste número, homenageamos, de seu verbo ferido, grito.Tímido, abrindo a guarda para os mais chegados apenas.Assim rememoram-te os amigos.Tua obra é pluridirecionada, mas os cantos onde canta pela raça negra, são por certo, de maiores consonâncias e ecos:

Das Biografias — Um



em negro
teceram-me a pele.
enormes correntes
amarram-me ao tronco
de uma Nova África.

carrego comigo
a sombra de longos muros
tentando impedir
que meus pés
cheguem ao final
dos caminhos.

mas o meu sangue
está cada vez mais forte,
tão forte quanto as imensas pedras
que os meus avós carregaram
para edificar os palácios dos reis.
(Adão Ventura)

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Para um Negro



para um negro
a cor da pele
é uma sombra
muitas vezes mais forte
que um soco.

para um negro
a cor da pele
é uma faca
que atinge
muito mais em cheio
o coração.
(Adão Ventura)



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Wagner Torres


Veio de conhecer-me um certo Wagner, poeta e editor, dono da Plurarts.A memória não me traz o como.Sei que expressei-lhe meu desejo de editar e meus parcos recursos para tal.Após o Plano Collor, aqueles farrapos de mágoas e dinheiro a impedir a consumação dos sonhos.Ele foi firme.Editaria.Entregaria aos poucos,aos poucos eu pagaria.assim foi feito.lembro um dia em que ele precisava de grana, eu tinha e fazia um curso em sala do CRP.Pedi que lá fosse.Ele chegou com exemplares e levou um cheque.Sorteei uns volumes e os muito presentes se irritaram.Queriam que todos ganhassem.Toda vez que publicamos, alguém nos diz sorridente:”_Quero ganhar um , hem?”.Quase que se espantam de ter de pagar.No Brasil, escritor independente endivida-se para editar.É preciso que alguém nos compre, por certo...
Depois, o Wagner(que no prefácio de meu “Sombras Feitas de Luz”, disse-me um “ser de luz”-deixando-me acreditar ser uma espécie de "Clara nunes da poesia") e ainda escreveu que eu presenteava os leitores "com poemas que vêm povoados de sementes,unindo nossas idéias com a loucura dos lúcidos", referindo-se à minha poesia "Comunhão"),foi com Rogério e eu à PUC de Betim, onde os estudantes de Letras organizaram o “Poesia em Cores Vivas” e, na mesa, falamos de todos os primórdios de nossa trajetória, passando pela editora Fundo de Quintal, que marcou época e eles criaram junto a um grupo de sonhadores,Wagner ainda militando para editar autores vários, com especial carinho para poetas..
Mais tarde, participamos, Wagner e eu do momento chamado “Vestígios”, a nona “Semana de Comunicação” da PUC do Coração Eucarístico,aqui em Bh, onde falamos dos Anos de Chumbo, com pessoas dos Direitos Humanos e uma policial militar.À noite, nos reuníamos a um grupo de estudantes para fazer acontecer a Ophicina Desiderata, um projeto meu que desenvolvi com Wagner.Poesia & Psicologia,uma alegira estar com poetas jovens, interessados em nos conhecer.Fiz sonho dirigido, após colocar a turma em estado alma, ee após abrir comportas da alma, eles escreviam seus versos,sob nosso amoroso olhar.
Wagner edita todos os anos a coletânea do Psiu Poético,referente ao Salão Nacional de Poesia de mesmo nome, que o Aroldo Pereira organiza todos anos em Montes Claros, (o Guiness dirá que é o único evento contínuo, de Poesia,por quase vinte anos)...
Editou de sua autoria:SONHOS(83/84),”Quando a madrugada se desp em Poesia”(1987),”Papoulas Caboclas sobre Águas virgens”(1989).Em 1991, é o organizador de uma coleão que reúne autores mineiros(Antologia de Autores Mineiros-Categoria contos “FLOR DE VIDRO”, numa homenagem a Murilo Rubião(quase cinqüenta autores,entre os quais, Márcio Almeida,Elias José,Olavo Romano, Oswaldo França Júnior,Antonio Barreto, Branca de Paula, Jaime Prado Gouvêa,Luiz Vilela, Roberto Drummond, Wander pirolli, Maria de Lourdes reis, enfim , uma façanha!).”Signopse-A Poesia na Virada do Século” 1995-a na Virada do Século”,coletânea que reúne também grandes nomes, como o nosso saudos Adão Ventura e outros como o jornalista e e fotógrafo ,coordenador do Curso de jornalismo da PUC de Arcos,João Evangelista Rodrigues ,Aroldo Pereira,Márcio Almeida,Hugo Pontes.Segue dele,cujo estilo enxuto, remete do sintético à plenitude:

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FRUTO POÉTICO
Brotam na mente dos sábios
Um mergulho suave
Penetrante nos mares
Mais calmos

Sangram mel,
Na colméia do povo

A argamassa de meu pensamento
Faz exilar o mau da semente.
("in sonhos")


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E o conhecido(que faz alguns chorarem, quando declama –lhe os versos):
DEVANEIOS


Ousaram dizer
Que fomos libertos
Por uma lei áurea
Assinada por punho de ouro

Ousaram dizer
Que os devaneios
De uma carta magna
Vagam nos sertões, arraiais,
Favelas e presídios
De nossa era

Ousaram dizer:
Agora é nossa vez.

As veredas mapeiam
Solidão e inércia,
Mas ferem o coração
Nascente
Do acalanto
(In “Papoulas Caboclas Sobre Águas Virgens”)



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E agora, de Aroldo Pereira, amigo de poetas mil, que admiro sem conhecer:

“A poesia incomoda a muita gente.Inclusive aos que se arvoram de serem donos;tomarem posse,ou serem amantes obsessivos da dita-cuja.Ela é uma arte vã,e nisso está sua grandeza.Não quer dizer nada e por isso diz tudo.
Tá todo mundo se lixando pro poeta, mas ele pega os resíduos da humanidade e transforma tudo em um nada lindo.
Só umas pessoas malucas como um Ferreira Gulart, uma Adélia Pado,um Augusto de Campos,têm humildade, arrogância e criatividade o bastante para transformar merda em ouro”(...)
(In Vozes do Psiu Poético, volume II,2000, “final de século”-Editora Plurartes)



Aroldo gosta de metapoesia, de poesia social, de poesiapura:


Quero 1 verso
Q possibilite
q o salto
não seja
mais sedutor
q o poema

(Aroldo Pereira, in XV Vozes do Psiu Poético, “A Poética do Olhar”(*), Plurarts editora)

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Livros publicados:”Canto de Encantar Serpente”,Azul geral”,”Hai kai Quem Quer”,”Doces Pérolas Púrpura”,Amor Inventado”, “Cinema Bumerangue”, “Pangolivro”.Participa de poesias, é ex-vocalista de banda(“Ataque cardíaco”), nascido em Coração de JESUS, HÁ MUITO RADICADO EM Montes Claros, MG.Inventor e manutendor do encontro nacional “Psiu Poético”, claro.




FONTE: www.vaniadiniz.pro.br/clevane/adao_ventura.htm



(*) Acabo de pré lançar , em Mariana, MG (30 de maio/09 com doação para a ALB/Mariana) e em Belo Horizonte (14/06/2009), no Sementes de Poesia , MUNAP, meu livro escrito para esse Psiu Poético, em homenagem a Aroldo, tanto que o subtítulo de meu livro, Olhares , Teares, Saberes, é "A Poética do olhar".À ocasião, não foi publicado e agora, o é, e pretendo o levá-lo a Montes Claros, na edição deste ano.


Adão Ventura formou-se em Direito ,pela UFMG.

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